CARTA DE APOIO AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE – 23.04.20

Nós, que fazemos o Círculo Psicanalítico de Pernambuco, assistimos estarrecidos aos últimos acontecimentos de desrespeito aos médicos e profissionais da saúde nos prédios e espaços públicos nos quais circulam, levando ao posicionamento do SIMEPE em defesa da categoria.
Não é um fato isolado, vem se desdobrando nos países europeus através de preconceito e ameaças direta aos profissionais, médicos, enfermeiros e aqueles que estão na luta diária para salvar vidas.
Os profissionais da saúde são pessoas que, como nós, sentem medo e angústia no confronto com a doença. Possuem, entretanto, uma força maior que os põe de pé todos os dias para ir à luta e exercer o seu trabalho. Agredir os médicos e tomá-los como responsáveis pela propagação do vírus, por estarem no confronto direto com a doença, se oferecendo na luta diária para salvar vidas é, além de ignorância, no mínimo desumanidade.
Sim, porque o que os sustenta nessa luta não só é o compromisso médico, mas é algo além, é a capacidade de empatia, de se colocar no lugar de cada doente e lutar até o fim para cumprir sua tarefa de salvar vidas. No entanto, são humanos, e o confronto com o desrespeito e falta de reconhecimento pode fazê-los perder a esperança e se fragilizarem. A capacidade de deixar de lado todos os seus medos, nesse momento, exige reconhecimento, gratidão e acolhimento de todos nós, para que possam ir adiante, vencendo o medo e a angústia que os atinge.
É imprescindível que saibamos que estamos todos envolvidos, todos somos transmissores, todos precisamos nos cuidar e, fazendo isso, cuidamos do outro. O egoísmo não vale nessa luta, é a solidariedade que vai operar a mudança.
Vimos, então, enquanto psicanalistas, dar nosso apoio aos profissionais da saúde, daqueles que conduzem as macas aos encarregados dos serviços gerais, dos técnicos e enfermeiros aos médicos e médicas que a cada dia realizam a sua tarefa, sem pensar nos riscos, e que, por obrigação cidadã, por imperioso compromisso com a sua missão estão ali, enfrentando os riscos e que, decerto, irão cuidar daqueles que hoje os repudiam e discriminam.

Maria Helena Barros

Presidente do CPP